Análise: Oracle e Sun-O que esperar? - Atualizado em 11/11

Nota: Desde que publiquei este post a primeira vez em 15/06/2010 vários desdobramentos ocorreram. Eu estou linkando outras fontes e destacando as atualizações.

Desde que a Sun Microsystems comprou o MySQL que comento com meus amigos e alunos que isso parecia uma manobra comercial (http://www.mysql.com/news-and-events/sun-to-acquire-mysql.html). O motivo é que a Sun já amargava prejuízo a um bom tempo e esta compra não parecia lhe trazer benefícios. Passado um ano começamos a ver a movimentação da IBM e da Microsoft para comprar a Sun, que acabou sendo vendida para a Oracle em abril/2009 (http://info.abril.com.br/noticias/negocios/oracle-compra-sun-por-us-7-4-bilhoes-20042009-5.shl).

A Oracle não é uma empresa que tem o costume de manter produtos que compra e sim agregar os colaboradores. Tanto é que produtos como PeopleSoft, BEA e JD Edwards já tiveram seus programadores desviados e os produtos estão ficando desatualizados. Sendo assim, qual impressão tenho desde este evento, e o que está se confirmando?

Oracle declarada inimiga do Open Source (11/11)

Nos ultimos dias se avolumou os problemas com a Oracle o os integrantes de programas Open Source:

Oracle começa a mostrar o que quer com a Sun

A Oracle quer ter seu próprio hardware e software. Isso pode ser notado claramente na noticia de que a Oracle deu indícios de que irá “fechar” o Open Solaris neste sábado, dia 14/8 (http://computerworld.uol.com.br/negocios/2010/08/16/oracle-vai-abandonar-o-pacote-opensolaris/) incluindo referencias a que irá proteger seus direitos autorais com as distribuições sobre o CDDL, e note o tom sugestivo do comunicado "”…não podemos permitir que concorrentes criem recursos ligados a partir de nossas inovações, antes de nossa organização.”

A frase acima é importantíssima por vários motivos. Primeiro, demonstra que a Oracle não tem a mínima intenção de evoluir produtos que são gratuitos, o que inclui o Java e o MySQL. Segundo, a Oracle não tem interesse em compartilhar com as comunidades suas inovações, já que é uma empresa voltada ao lucro.

Outros indícios disso são o fato de que a Oracle na quinta dia 12/8 processou o Google por utilizar uma variação “não autorizada” do Java no Android (http://computerworld.uol.com.br/negocios/2010/08/13/oracle-processa-google-pelo-uso-de-patentes-java-no-android/). A alegação é que o Java e suas VMs são baseadas em distribuição abertas, mas isso não dá direito a que se criem novas engines utilizando o que seria “…diretamente e repetidamente infringiu a propriedade intelectual ligada ao Java…”. Ou seja, usar o Java tudo bem, mas criar novas funções a partir do Java é visto como uma violação.

Mais uma reviravolta foi quando a biblioteca ODF que converte documentos feita em Java pela Sun passou a ser cobrada no começo do ano (http://www.guj.com.br/posts/list/204350.java), preocupando quem utilizava esta importante ferramenta.

E agora, o que podemos esperar?

Java – Seu futuro é incerto como o de Santo Cristo na voz do Legião Urbana. Dois problemas muito sérios existem:

  1. O Java não é GPL puro já que a JCP pode barrar qualquer coisa, com a intenção de impedir que fossem feitas “bagunças” nas classes e ficasse uma baderna. Ou seja, qualquer incremento pode ser visto como um “crime” pela Oracle, como está fazendo com o Google (http://forum.datasus.gov.br/viewtopic.php?f=32&t=163)
  2. A Oracle é um empresa monetizada, e até que ponto ela irá manter o Java gratuito (não é e nunca foi aberto), sendo que no momento da compra da Sun o Java foi indicado como o grande desejo da Oracle?   O próprio Goslin declarou nesta quarta (25/8) que já está pensando em formas de manter o Java vivo e que a conferencia JavaOne agora em setembro é o ponto crucial nesta discussão. Mas ele já coloca que para dar certo o movimento tem que começar com clientes da Oracle que fazem diferença monetariamente (http://computerworld.uol.com.br/negocios/2010/01/22/sob-o-controle-da-oracle-futuro-do-java-e-incerto/ e http://computerworld.uol.com.br/tecnologia/2010/08/25/pai-do-java-pressao-pode-fazer-com-que-oracle-mude-postura/)
  3. Atualização em 30/08: Google resolveu se ausentar do JavaOne, maior evento de Java e um dos maiores e mais respeitados eventos dos apoiadores de open source. O motivo declarado pelo Google é que o “processo contra o Google e o código aberto tornou impossível para nós compartilhar livremente nossos pensamentos sobre o futuro do Java e do open source de forma geral”. Com certeza uma afirmação “dolorosa” e expressiva (http://computerworld.uol.com.br/negocios/2010/08/27/google-cancela-presenca-no-javaone-apos-briga-com-a-oracle/)

Java para celulares – Ai reside um problemão. O MIDP e o J2ME são padrões aceitos pelo JCP, mas outros padrões utilizado em alguns celulares da Motorola, Sony Ericsson e outros são customizados como foi feito no Android. O que a Oracle vai fazer?  Se já foi brigar com o “grandão” Google vai poupar os outros?

OpenOffice – A Oracle não irá manter as atualizações tão constantes e deverá deixar grande parte do trabalho para a Novell e IBM, parceiras do projeto. E não duvido que não passe a cobrar versões mais sofisticadas, como acontece com o BROffice e recentemente com o plug-in ODF.
Atualização em 28/09: A Document Foundation se desligou e iniciou um projeto alternativo exatamente por conta da Oracle, conforme o comunicado oficial a imprensa (http://www.documentfoundation.org/contact/tdf_release.pdf), e um dos seus representantes, o famoso Richard Stallman também atribui isso aos movimento da Oracle, mesmo sem dizer o nome da empresa (http://www.documentfoundation.org/supporters/). Veja que os principais mantenedores do OpenOffice estão neste novo projeto, como FSF, Novell, Google, Red Hat, Ubuntu, Gnome e outros.

MySQL – Duvido que a Oracle irá manter um produto que compete com o que ela é de origem. Não sei o que será feito, mas o Oracle Express Edition não está ai para ser um capacho do MySQL.

OpenSolaris – Já está claro o que vai acontecer com este SO.

VirtualBox – É com dor no coração que acredito no mesmo futuro que o OpenOffice, só que mais cedo. Em pouco tempo a equipe será desmontada e o produto irá começar a definhar, a menos que decidam uma versão paga. Já penso em me preparar para outro virtualizador que faça VMs em 64 bits no Windows 7.

Quem é o maior beneficiário disto tudo?

Se alguém falasse que isso tudo está sendo feito pela Microsoft logo diriam que estariam comprando o produto só para prejudicar e depois vender o .NET, mas não é o caso.

Mesmo assim, o maior beneficiário é a Microsoft, por vários motivos. Primeiro é a incerteza do futuro do Java. Segundo que a Oracle, parceira de longa data da HP e IBM, passa a competir com estes no mercado de hardware e SO para servidores. Terceiro que do mesmo capitalismo que acusam a Microsoft a Oracle é mestre. E por fim, tantos odeiam o Larry Elisson quanto odeiam o Bill Gates.

O .Net se firma como uma plataforma confiável para o futuro, a Microsoft poderá receber incentivos para melhorar seus sistemas para competir com os storages pela Dell e IBM. A HP pode contribuir com máquinas para datacenter mais “parrudas” e embutir o Windows como padrão. O SQL Server ganha espaço com a incerteza do que irá acontecer com o MySQL e os custos bem mais altos de licenciamento do Oracle.

As possibilidades são várias, o que resta é esperar para ver o que vai acontecer e torcer para ninguém sair machucado nesta guerra que está só começando. Mas uma certeza já tenho, a Oracle não brinca em serviço e está mostrando qual é a sua intenção.

Comentários (5) -

  • Suas observações são muito pertinentes, Marcelo. A compra da Sun pela Oracle não seria mesmo um ato de caridade para a comunidade tecnológica.

    Os gigantes estão na arena, resta ver o resultado. Pode-se prever, porém, prejuízo para o consumidor dos produtos que utilizam as tecnologias por trás dessa briga de titãs.
  • Olá Wisley,

    Eu sinceramente espero que isto não acabe como foi com a SCO, mas só o tempo vai mostrar os desfechos. O maior receio do mercado é essa briga se tornar uma "guerra de patentes" entre Oracle-Microsoft-IBM-Google.
  • Olá Marcelo,

    Alguns dos trechos do texto são um tanto quanto polêmicos, principalmente os relacionados com licenças e a questão de Java ser ou não aberto. Também há alguns trechos com pequenas imprecisões relacionadas com tecnologias da plataforma Java. Porém, eu vou me deter a comentar somente um parágrafo relacionado com ODF, que contém uma imprecisão técnica. Abaixo, eu destaco o parágrafo que estarei comentando em seguida.

    "Mais uma reviravolta foi quando a biblioteca ODF que converte documentos feita em Java pela Sun passou a ser cobrada no começo do ano (http://www.guj.com.br/posts/list/204350.java), preocupando quem utilizava esta importante ferramenta."

    Na realidade, ODF não é uma biblioteca, mas sim um formato, com padrão aberto, de documentos para aplicações de escritório, como: planilhas eletrônicas, apresentações e processadores de palavras. O OpenDocument Format (ODF) é um formato de arquivo baseado em XML para apresentar, armazenar e editar documentos de escritório. Você poderá encontrar informações precisas e detalhadas sobre o OpenDocument Format no site da ODF Alliance: http://www.odfalliance.org/. O seguinte documento PDF, com uma única página, contém mais informações: www.odfalliance.org/resources/AboutODF.2.pdf.

    O que passou a ser cobrado pela Oracle foi o plug-in ODF para Microsoft Office. Este add-in para as versões 2000, XP, 2003, 2007 e 2010 permite que usuários do Microsoft Office leiam e escrevam documentos ODF. De acordo com a Oracle, ele fornece um melhor suporte a ODF que o Microsoft Office 2007 ou 2010. Veja informações sobre o plug-in no seguinte documento PDF disponibilizado pela Oracle: www.oracle.com/.../odf-plugin-faq-152536.pdf.

    É importante observar que, num trecho para frente no texto do post, você cita o plug-in ODF quando está fazendo um comentário sobre o OpenOffice. Porém, não ficou claro que se trata de um plug-in para Microsoft Office, como comentado anteriormente.

    Eu concordo com vários trechos do seu post, principalmente com relação à Microsoft, com sua plataforma .NET, se beneficiar da atitude que a Oracle está tendo com a plataforma Java após ter comprado a Sun Microsystems.

    Abraços,

    Rogério Moraes de Carvalho
  • Olá Rogério,

    Você tem razão na observação de que não coloquei que o plug-in da SUN se refere a conversão para Office, mas de qualquer forma a intenção foi demonstrar a diferença entre a postura da SUN e da Oracle em relação a este tipo de licenciamento. Quanto ao termo "biblioteca" é normal utilizarmos este atributo em referencia a DLL (Dynamic LIBRARY) que é formato padrão para extensões no Windows como é o caso do OpenODF.
    Na verdade existem vários analistas que pensam como eu, e o motivo aparentemente é que a Oracle está desistimulando o uso do ODF no Office para tentar no futuro monetizar o OpenOffice, o que seria ainda mais anti-ético. De uma olhada no artigo a seguir em br-linux.org/.../
    Outra importante evidencia é o fato do Google ter se retirado do JavaOne e das manifestações da comunidade OpenOffice em relação aos movimentos que a Oracle anda fazendo.
    Quanto ao licenciamento você pode verificar tanto o forum do DataSUS quanto aos dois links da IDG que coloquei e verá que o mercado inteiro se preocupa e o próprio Gosling declarou isso publicamente. Um exemplo disso, que não citei no artigo, foi quando a SUN exigiu que fosse tirado do Visual Studio a linguagem J# porque a Microsoft fez alterações, e a MS foi obrigada a desistir nas versões posteriores.
    Eu sinceramente quero que o Java continue a existir, mas fica dificil dizer que nada está acontecendo, concorda?

    []'s
  • Olá Marcelo,

    Eu somente comentei sobre o OpenDocument Format (ODF) porque achei que o parágrafo que destaquei no seu post não estava preciso tecnicamente.

    Certamente, após ter comprado a Sun Microsystems, a Oracle está tendo uma série de atitudes questionáveis com relação a diversos produtos que eram da Sun, como o ODF Plugin for Microsoft Office e o sistema operacional Solaris, dentre outros.

    Quanto ao processo da Oracle contra o Google por quebra de patentes relacionadas com Java no sistema operacional Android para dispositivos móveis, realmente o Google fez uma implementação de Java incompatível quando desenvolveu uma nova máquina virtual chamada Dalvik VM e um SDK para Android, ambos infringindo patentes da Sun Microsystems (que foi adquirida pela Oracle). Porém, com o sucesso da plataforma Android, a atitude da Oracle enfraquece a linguagem Java e gera uma série de incertezas com relação ao seu futuro. Afinal de contas, neste processo, os principais prejudicados serão os desenvolvedores que produzem aplicações para Android com a linguagem Java. Certamente, neste momento, o Google já está cogitando alternativas à linguagem Java no desenvolvimento de aplicações para Android. Com este processo em andamento, realmente não faz o menor sentido a participação do Google no JavaOne, que está sendo organizado pela Oracle pela primeira vez.

    É importante notar que, a qualquer momento, a Oracle pode voltar atrás em várias de suas decisões. Neste momento, ela está se sentindo poderosa após a compra da Sun e está atirando para todos os lados. Certamente, muitos grandes clientes não estão enxergando com bons olhos este comportamento. Uma pressão de mercado pode obrigá-la a voltar atrás para não perder mercado. Por exemplo, isto aconteceu recentemente com a Apple quando voltou atrás em restrições impostas nas sessões 3.3.1 , 3.3.2 e 3.3.9 no uso de ferramentas para desenvolvimento de aplicações móveis para iOS para poderem ser publicadas no App Store. Portanto, qualquer suposição além dos fatos será mera especulação.

    Abraços,

    Rogério Moraes de Carvalho
Os comentários estão fechados